5 Reflexões sobre O Médico e o Monstro – Clássico Atual
5 Reflexões Atuais sobre “O Médico e o Monstro” de Robert Louis Stevenson
“O castigo que está se fechando sobre nós dois já o transformou e o esmagou.”
Assim se desenha o conflito entre Edward Hyde e Henry Jekyll — ou seriam dois nomes para o mesmo ser?
A clássica novela O Médico e o Monstro, publicada em 1886, é muito mais do que uma história de horror. É uma poderosa alegoria sobre os conflitos internos que habitam cada ser humano. A obra de Robert Louis Stevenson transcende o tempo ao explorar temas como a moralidade, o desejo, a repressão e a identidade.
A seguir, trago cinco reflexões sobre como essa narrativa vitoriana continua sendo extremamente relevante para os nossos dias.
- O Médico e o Monstro é mais atual do que nunca
Mesmo com mais de um século desde sua publicação, a história do Dr. Jekyll e seu alter ego monstruoso, Mr. Hyde, continua a fascinar leitores por todo o mundo. Isso acontece porque a obra aborda algo essencial e atemporal: a dualidade presente em cada ser humano.
Dr. Jekyll é um médico respeitável, bem-sucedido, socialmente aceito. No entanto, ele sente-se sufocado por sua reputação e pelas expectativas impostas pela sociedade. Seu desejo de liberdade o leva a criar uma poção que separa o seu “lado bom” do “lado sombrio”. O resultado é Mr. Hyde — um ser desprezível, cruel, mas completamente livre.
Essa história nos força a encarar uma pergunta inquietante: será que, sem limites sociais ou culpa, nos tornaríamos tão monstruosos quanto Hyde?
- A transformação de Jekyll em Hyde é mais do que física
Ao contrário do que muitos pensam, a grande virada da narrativa não está na transformação visual. O foco da obra é psicológico, moral e filosófico. Hyde é, de fato, uma figura fisicamente diferente, mas sua verdadeira monstruosidade está em suas ações impiedosas e ausência de remorso.
Stevenson constrói a ideia de que todos temos impulsos reprimidos. O que Jekyll faz é usar a ciência para vivê-los em um corpo separado. Hyde representa a libertação desses impulsos — mas também a perda total de controle.
Nos dias atuais, essa ideia continua relevante. Redes sociais, perfis anônimos e ambientes digitais muitas vezes funcionam como “poções modernas” que permitem às pessoas expressarem seus lados mais sombrios sem se identificarem. A pergunta de Stevenson ecoa: quem somos quando ninguém está olhando?
- O ego reprimido e o desejo de liberdade sem culpa
A construção de Hyde como alguém deformado não é casual. A aparência física do personagem reflete o desequilíbrio interno de seu criador. Hyde é a projeção do que Jekyll considerava inaceitável em si mesmo — seus desejos mais íntimos e sombrios, livres da culpa e das amarras sociais.
Esse desejo de viver sem consequências ainda é uma tentação comum. Em ambientes onde regras são mínimas ou inexistem, a tendência humana é se entregar a comportamentos egoístas, violentos ou moralmente reprováveis. Hyde é, portanto, um espelho desconfortável que Stevenson nos coloca à frente.
Curiosamente, ele também é o mais autêntico dos dois. Ele não finge, não reprime, não mente para si mesmo. Ele simplesmente é.
- A moral da época e os monstros do presente
A crítica de Stevenson à sociedade vitoriana é clara: as aparências enganam, e a repressão de desejos humanos pode gerar monstros piores do que aqueles que ousam ser quem realmente são.
Trazendo isso para o presente, vivemos em uma era de aparências, filtros e personagens. As redes sociais nos condicionam a mostrar apenas o “melhor lado” da nossa vida. Ao mesmo tempo, essas mesmas redes abrem espaço para discursos de ódio, agressividade e atitudes que lembraríamos de Hyde, escondidos no anonimato.
A reflexão proposta em O Médico e o Monstro se torna então uma denúncia contemporânea: o mal não desapareceu — ele apenas mudou de forma.
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- E se todos tivéssemos nossa fórmula?
No desfecho da obra, Dr. Jekyll perde o controle sobre sua criação. Hyde se torna mais forte a cada dia, e a fusão entre os dois acaba se tornando irreversível. O final é trágico: ambos morrem, porque um não pode mais existir sem o outro.
Essa conclusão nos leva a uma última reflexão: quantos de nós, cidadãos honestos, pais, mães, filhos e trabalhadores, não desejaríamos viver como outro ser, livre para realizar nossos desejos mais obscuros sem culpa?
A resposta pode não ser confortável, mas é essencial. O Médico e o Monstro não é apenas uma história gótica. É uma obra que nos convida a olhar para dentro e encarar nossos próprios Hy… ops… desejos mais profundos. Quer saber mais? Acesse o artigo completo na Wikipedia sobre O Médico e o Monstro.