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Opinião literária, por Felipe Azeredo – A metamorfose – Franz Kafka

A metamorfose - Franz Kafka

“Certa manhã, ao despertar de sonhos agitados, Gregor Samsa deu consigo na cama transformado num inseto monstruoso. Jazia de costas, umas costas duras feito couraça, e, erguendo um pouco a cabeça, viu sua barriga bojuda, marrom, dividida em segmentos envergados, sobre a qual a coberta estava prestes a escorregar e cair, e suas muitas patas, lamentavelmente finas para aquele corpo enorme, agitavam-se indefesas diante dos seus olhos”.

Aqui está uma obra que ao terminar a leitura surge em sua mente “ok, terminei, mas o que diabos foi mesmo que eu li?”

Tentarei expor minhas impressões, por mais que possa incorrer em erros quanto à vontade do autor.

O personagem Gregor Samsa é o único provedor de sua família. Possui um emprego que odeia e vive sob o jugo de um chefe terrível. Suporta tal emprego apenas por ser rentável e lhe render o que considera que será suficiente para em breve quitar a dívida da família e enviar a irmã para um conservatório onde poderá viver sua paixão pelo violino.

Então temos um personagem cuja vida gira ao redor de seu pai velho e preguiçoso, sua mãe doente e sua irmã mais nova pela qual possui grande carinho.

Mas um dia sente-se mal e não mais segue para seu trabalho. A metamorfose. A escrita leva o leitor a crer que o personagem tornou-se um inseto de aparência repugnante e tamanho de gente, mas eu gostaria de dar outro olhar a tal metamorfose.

Os sinais que o personagem demonstra poderia sugerir uma grave crise de depressão, algo que durante o período em que a obra foi escrita não era reconhecido como doença, mas sim como distúrbio de caráter e fraqueza moral.

O personagem torna-se recluso, sem apetite pelo alimento ou mesmo pela vida, deixando-se prostrado pelos cantos a maior parte do tempo e sentindo grande dor e desconforto pelos menores movimentos, todos tão estranhos a ele nesta nova forma.

A família decide que é melhor que ele fique recluso em seu quarto, como um ser repugnante e asqueroso que deve ser escondido de todos e motivo de grande vergonha e incômodo.

Tendo secado a fonte do sustento da família, a renda de Gregor, todos os três se põe a trabalhar em bons empregos, algo que poderiam muito bem ter feito antes ao invés de sugarem a renda do personagem e se acostumarem a recebê-la com prazer.

Logo, o grande bicho no quarto se torna algo a ser evitado a todo custo e, quando este enfim morre de fome ninguém sofre com sua perda, mas sim, colocam-se a passear felizes pela cidade e fazem planos para o futuro, deixando o cadáver abandonado no quarto em que faleceu.

Vendo desta forma, feita tal análise, enxergo que o que Franz Kafka expõe em suas páginas não é uma ficção estranha em que um homem torna-se um inseto, mas sim ironiza uma realidade que mesmo hoje existe. Você é querido e amado enquanto é util, mas basta adoecer e tornar-se um estorvo para que aqueles que antes viviam à sua sombra desejem se livrar de ti o mais rápido possível como quem deseja se livrar de uma praga.

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