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Opinião literária, por Felipe Azeredo – Frankenstein – Mary Shelley

Frankenstein - Mary Shelley

5 Verdades Sobre a Vida em A Metamorfose, de Kafka

5 Verdades que Frankenstein Revela Sobre a Humanidade – Por Felipe Azeredo

“Eu era dotado de uma aparência horrorosamente deformada e repugnante, não possuía sequer a mesma natureza dos homens. Quando olhava ao redor, não via e nem ouvia falar de alguém como eu.”

Frankenstein, de Mary Shelley, é um dos maiores clássicos da literatura mundial. Apesar de ser conhecido como uma obra de terror gótico, este romance é, na verdade, um profundo tratado sobre responsabilidade, rejeição, ética científica e humanidade. A primeira leitura pode enganar: não se trata apenas de um monstro criado por um cientista ambicioso. Trata-se de quem é realmente o monstro, e como a sociedade molda essa definição.

Ao terminar o livro, fui tomado por uma inquietação que poucas obras me causaram. Já conhecia a história por adaptações e referências culturais, mas nunca imaginei que sua leitura traria reflexões tão profundas e atuais.

  1. Frankenstein é mais sobre abandono do que horror

A criatura de Frankenstein não nasce mal. Pelo contrário: ela é curiosa, sensível e deseja apenas ser aceita. Sua aparência, no entanto, gera medo, repulsa e violência por onde passa. O verdadeiro terror da obra está no abandono, não na criação.

Victor Frankenstein, ao ver o ser que criou, entra em choque e o rejeita imediatamente. Essa rejeição inicial marca o destino da criatura. Toda maldade que comete é fruto da exclusão e da dor causada pelo desprezo.

  1. A responsabilidade pelo que criamos é inevitável

Frankenstein foge de sua criação. Mas a criatura, viva, continua existindo — e sofrendo. Mary Shelley nos alerta que não basta criar algo e esperar que o mundo se adapte. Quem cria, deve cuidar. Isso serve para a ciência, para a paternidade, para os afetos e para a sociedade como um todo.

Victor ignora a dor do ser que gerou, como se não fosse sua responsabilidade. Mas o livro mostra que toda escolha tem consequências, e não cuidar do que criamos pode levar à destruição — tanto da criatura quanto do criador.

  1. Frankenstein mostra como a aparência ainda define o valor das pessoas

A criatura de Frankenstein é rejeitada por sua aparência. Mesmo antes de falar, de agir ou de se expressar, ela é considerada um monstro. Isso reflete um preconceito estético ainda presente hoje. Julgamos pela capa, pela pele, pelo corpo — antes de conhecer a alma.

Ao longo do romance, vemos que a dor maior da criatura não é sua feiura, mas o fato de que ela nunca será vista além disso. Isso nos leva a pensar sobre como tratamos os diferentes, os marginalizados, os fora do “padrão”.

  1. A maldade é fruto da exclusão, não da essência

A grande virada do livro acontece quando a criatura, depois de tantas tentativas de se integrar, decide se vingar. A maldade nasce quando a esperança morre. Mary Shelley parece dizer: não é o monstro que nasce mau, é o mundo que o transforma assim.

A criatura era pura, mas sofreu violência. Era boa, mas foi ignorada. Era sensível, mas foi humilhada. O que restou foi o ódio, que explodiu como uma resposta a tanto descaso.

Veja também nossa análise sobre “A Metamorfose”, de Franz Kafka para refletir sobre exclusão e invisibilidade social.

  1. Frankenstein é um aviso sobre a ciência sem consciência

A criação do monstro é fruto de uma busca desenfreada por conhecimento e poder. Victor Frankenstein deseja ultrapassar os limites da vida e da morte — e consegue. Mas não pensa nas consequências. Sua ambição desmedida o leva à ruína, e também destrói sua família e seu legado.

Essa mensagem ressoa fortemente hoje, em tempos de avanço tecnológico acelerado. Criamos inteligências artificiais, manipulamos DNA, desenvolvemos armas… Mas será que estamos prontos para lidar com tudo isso?

Considerações finais sobre Frankenstein

Frankenstein, de Mary Shelley, é muito mais do que uma história de terror. É uma obra profunda, filosófica e trágica que questiona até onde vai a ética humana, o que nos torna humanos e como tratamos o “outro”.

A criatura que Victor rejeita é um espelho da sociedade: quem não se encaixa, é descartado. Quem não corresponde ao padrão, é condenado. O livro não fala só de um cientista e seu experimento: fala de pais e filhos, de governantes e suas decisões, de empresas e seus produtos, de pessoas e suas relações.

Se você leu Frankenstein apenas como uma narrativa gótica, vale reler. Há muito mais escondido nas entrelinhas. É um retrato atemporal da solidão, da negligência e das consequências da ausência de responsabilidade afetiva e ética.

Quer saber mais?

Aprofunde sua leitura com a página da Wikipedia sobre Frankenstein — informações sobre o contexto histórico, a vida de Mary Shelley e as influências por trás da obra.