“É muito mais fácil não acreditar em um homem invisível; e podiam ser contados nos dedos das mãos aqueles que realmente o viram se dissolver no ar ou sentiram a força de seu braço”.
O homem invisível – H. G. Wells
Quem nunca desejou ser invisível, por qualquer motivo que fosse? A ideia de se tornar imperceptível aos olhos dos outros exerce um fascínio irresistível sobre muitos de nós. Ela desperta a imaginação e nos faz questionar o que faríamos se tivéssemos esse poder extraordinário.
O autor mergulha de forma abrangente nessa questão intrigante. Ele nos conduz por uma jornada de reflexão, explorando as implicações éticas e morais de se descobrir invisível. Ao adentrar esse universo, nos deparamos com uma série de dilemas complexos.
O que seria possível fazer ao se tornar invisível? As regras da sociedade ainda se aplicariam ou nos tornaríamos superiores a elas? Seríamos livres para fazer o que bem desejássemos? Essas são questões profundas que desafiam nossos valores e nos confrontam com nossa própria natureza humana.
No enredo, o protagonista consegue, por meio de uma teoria com embasamento científico superficial, alcançar a invisibilidade. Movido pelas circunstâncias em que se encontrava quando adquiriu essa façanha extraordinária, ele decide explorar comportamentos questionáveis ao longo de toda a narrativa. Contudo, para ser honesto, acredito que qualquer um de nós, diante de uma descoberta tão surpreendente, poderia ser tentado a agir de maneira não tão diferente.
É fato que, em muitas situações, nossa obediência às leis e à moralidade é impulsionada pelo medo de punição. Essa é uma das principais razões pelas quais não cometemos crimes ou imoralidades. Além disso, existem considerações éticas e religiosas que nos guiam. No entanto, no caso do nosso protagonista, esses valores não são relevantes, e mesmo que fossem, a confusão mental causada por seu estado invisível provavelmente o levaria a acreditar em sua total impunidade.
A invisibilidade traz consigo uma solidão inesperada. O ser humano é um animal social, dependente das interações com os outros para manter sua sanidade. Contudo, após alcançar sucesso em sua experiência, o protagonista se vê isolado em meio à multidão. Ele não pode compartilhar sua condição com os outros por medo das consequências. É forçado a se esconder por trás de disfarces para manter um mínimo de vida humana. Até mesmo o reflexo no espelho se torna seu inimigo, negando-lhe a existência.
Apesar dos atos vis do protagonista, não posso condená-lo totalmente. Compreendo sua condição mental e os efeitos que seu experimento teve sobre ele. Ao adquirir a habilidade de se tornar invisível, ele se torna um ser que acredita na total impunidade. Consciente de sua capacidade de tomar o que deseja e ferir quem bem entender sem ser atacado em retorno, ele se sente superior à condição humana. A ausência de culpa e remorso o transforma em um ser complexo e ambíguo.
A obra levanta um importante questionamento sobre a necessidade humana de conexão social. Somos seres que dependem uns dos outros para nossa sobrevivência física e emocional. A invisibilidade, por sua vez, afasta o protagonista dessa essência fundamental, deixando-o isolado e em conflito consigo mesmo. Essa solidão extrema nos faz refletir sobre o valor das relações humanas e a importância da empatia e compreensão mútua.
Embora a proposta de se tornar invisível seja tentadora, considerando tudo o que foi mencionado, resta apenas a esperança de que a ciência jamais conceba tal possibilidade. Não há nada mais temível do que uma mente humana confusa em um corpo que não enxerga as consequências de seus atos. A confusão mental e a falta de limites podem levar a ações devastadoras, sem qualquer senso de responsabilidade.
Essa obra nos convida a refletir sobre os limites éticos e morais da humanidade. Abre uma janela para explorar as complexidades da natureza humana quando confrontada com poder e impunidade. Nos faz questionar até que ponto a liberdade total seria benéfica ou prejudicial para nossa própria sanidade